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Em busca de um indicador sobre identidade urbana e patrimônio edificado


Em colunas anteriores, discutimos como analisar o espaço urbano com base em indicadores de acesso habitacional, trabalho, mobilidade e vegetação. Tais temáticas foram escolhidas como as primeiras a serem abordadas porque, para elas, há uma extensa bibliografia propondo métricas a serem utilizadas em estudos de cidades. A existência desse amplo repertório se deve ao fato de haver certo consenso em relação à situação ideal a que se deseja chegar: no caso da mobilidade, por exemplo, seria tornar mais rápida a conexão entre população e oportunidades ou serviços urbanos.

Entretanto, há outros tópicos para os quais tal definição não é trivial, como é o caso da preservação de edificações históricas. Tal complexidade ocorre porque a decisão sobre o tombamento de um imóvel não é necessariamente baseada em questões econômicas ou em algum indicador quantitativo objetivo, mas sim em critérios subjetivos a cada habitante, como a importância histórica da edificação, os valores culturais que ela representa ou o seu significado para a comunidade local. Como escreveu Randall Mason em Economics and Historic Preservation, ao se tentar quantificar a importância da preservação de uma edificação, corre-se o risco de se tentar “calcular o incalculável ou precificar o inestimável”. Mas, tendo em vista os custos econômicos decorrentes da manutenção do bem tombado e as restrições que incidem sobre o terreno onde se situa o imóvel em questão – e eventualmente para seu entorno – como demonstrar que a preservação pode ter benefícios que potencialmente venham a compensar seus custos?

Uma alternativa seria contabilizar a influência da edificação histórica nos preços dos imóveis do entorno, como descrito no artigo de Donovan Rypkena no relatório The Economy of Uniqueness: a verificação estatística de que a proximidade ao bem tombado gera a valorização da área circundante é um indicativo do potencial de prédios históricos em tornar mais atrativa uma área da cidade. Porém, não se pode pressupor que todo bem preservado deve funcionar como uma centralidade urbana ou um polo atrator, visto que, em muitos casos, a preservação da memória ou o reforço da identidade cultural do contexto local são, por si só, os objetivos finais do tombamento. Assim, a análise do impacto econômico da preservação deveria ser capaz de distinguir os bens analisados de acordo com seu potencial de realmente ser um elemento transformador da economia local.  

Nesse sentido, pode-se utilizar as proposições de artigos que utilizam dados de redes sociais para caracterizar a relação de espaços urbanos com seus usuários. Em especial, a identidade visual e arquitetônica de cidades tem sido estudada a partir da geolocalização de fotos de plataformas online, como nas pesquisas Recognizing City Identity via Attribute Analysis of Geo-tagged Images e Image of a City through Big Data Analytics, utilizando o número de fotos de um local como indicativo de seu potencial em ser um marco imagético e, consequentemente, se tornar algum tipo de centralidade urbana. Cruzando tais dados com a localização de edificações históricas, seria possível estimar quais delas parecem ter papel protagonista na valorização de seu entorno. A quantificação dessa valorização serviria para ilustrar a gestores públicos e outros agentes urbanos os potenciais benefícios que a preservação de edificações históricas eventualmente pode trazer.

Mas o quão viável é a operacionalização de uma análise dessas? Em nossa próxima coluna, traremos a resposta.

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